quinta-feira, 9 de junho de 2016

Pequena fuga

Arrependida por ter dispensado a ajuda do meu psicólogo simplesmente não indo mais às sessões. 

Não tô aqui hoje pra escrever coisas bonitas ou poéticas. Só queria poder compartilhar o que estou sentindo, pra não sair gritando pela casa e acharem que estou maluca(de novo).

Sou a *****, tenho 19 anos e fui abusada sexualmente por 3 anos(dos 5 aos 8 anos) pelo marido da minha prima. Irônico lembrar que ele fazia tudo parecer uma grande brincadeira. “Vamos brincar com o primo, você e sua priminha(ela era 1 ano mais nova que eu)”, “Vamos brincar de casinha, você vai ser minha mulher”, “Olha como sua prima chupa direitinho, você tem que fazer que nem ela”, “Fica tranquila vó, vou levar elas pra brincar e daqui há pouco estamos de volta”. Ele nunca nos ameaçou ou algo parecido, só fez parecer tão certo a ponto de nós mesmas termos medo de acabar. Com 8 anos já sabia como tudo funcionava, como ele gostava e que se ele gostasse do que fazíamos, ganharíamos algo como recompensa.

Quando eu completei 8 anos tudo parou, porque minha mãe tinha acabado de ganhar meu irmão e ficava em casa cuidando dele e assim eu não precisava ir pra casa da vovó, foi quando ela começou a me dizer que era pra me afastar desse cara, ela não confiava nele… Pobre mamãe… Se ela imaginasse na época que era tarde demais pra avisos e recomendações….

Fiquei com muita vergonha quando um dia minha prima saiu correndo pela casa gritando que eu tinha chupado ele, a família toda tava reunida, me escondi debaixo da cama do meu tio e depois quando todo mundo tinha cansado de me procurar fui pra casa correndo(moro duas casa depois da casa da vovó), mas ninguém se importou… Então guardei isso durante 6 anos, até uma crise de choro fazer a pedagoga da escola onde eu estudava me tirar da sala. Não aguentei mais e contei pra ela tudo o que me lembrava e me matava dia após dia. Mostrei as marcas dos cortes em partes de certa forma visíveis pelos meus braços, aquelas marcas que a gente costuma inventar cada desculpa tosca pra justificar… Ela respeitou meu tempo e só contamos aos meus pais quando eu decidi que era hora.
E eles sofreram comigo, entenderam meus choros na madrugada, meu medo de dormir com a luz apagada, o xixi na cama até aquela idade, o isolamento, as marcas...Sofreram porque sabiam que mesmo com tratamentos, remédios, acompanhamentos, eu levaria isso pro resto da vida.

Ao longo desses anos fiz muitas cagadas pra tentar escapar, esquecer dos choros, mas bem, estou chorando de novo, sentindo dor de novo, vazio de novo, vontade de gritar de novo e me sentindo um nada por querer que meu namorado esteja comigo aqui e ele disse não poder por estar estudando pras provas da faculdade.

Não tenho amigos, meus pais não estão aqui. Escrever sobre isso foi a única forma de me “esvaziar”, e apesar de ainda estar sentindo dor e chorando, agradeço a Deus pelas letras, pelas palavras, pra que eu pudesse escrever e tentar escapar de tudo e pela força pra estar suportando tudo até aqui.

Obrigada por terem lido até aqui!